Ao sentir sua textura, ao sentir ganância por algo quase nulo e ao enxergar um valor muito maior do que era numa simples nota, ela passou a guardá-la sempre com seus pertences. Seu esmero ao olhar, seu carinho ao guardar, e principalmente, seu leve orgulho dentre os demais, a fazia uma das mais esnobes pessoas de sua rua. E provavelmente, de seu bairro inteiro. Sacar uma nota daquele jeito, não era fácil. Afinal, guardar o valor de 1 ou 100 reais, nunca será algo simples. Mas convenhamos, ela parecia outra pessoa ao olhar e ao tocar a nota todo santo dia. Algo de outro mundo para muitos.
E ao sair de casa, se deparou com uma mulher razoavelmente esquisita. Era de estatura baixa, com uma idade mais avançada, não se adequava aos padrões daquela cidade, e muito menos daquele bairro. Ao ver a nobre mulher se aproximar, viu em seu rosto uma marca muito pesada, seca. A marca em seu rosto valia mais do que um carro do tempo contemporâneo em que vivemos. O temperamento? Nem se fala. Tua nobreza ao encontrá-la foi tão precisa que esta jovem decidiu avaliar melhor as notas de 1 real.
Aos primeiros balbucios em que trocou com ela, começou com apenas duas palavras: ‘’minha jovem...’’. Isto foi o bastante para ela se encantar com o caráter desta mulher. E ao desenrolar da conversa, ela notou, apesar de sua sublime nobreza, uma leve tristeza. Sabe-se lá qual o motivo disto. Mas, afinal, do que se tratava este breve diálogo? Eu diria que as duas se entendiam veementemente, com traços e trejeitos semelhantes; no entanto, a madura mulher lhe deu ótimos conselhos. E o principal estava no mísero valor desta tão emancipada nota que ela guardava.
Aos nossos ouvidos, uma simples história como esta, é como se não houvesse sentido algum. E cá entre nós, no meu caso, eu teria a mesma sensação. Esta mulher era obcecada por valores pífios. Mas não a condeno. Afinal, cada um guarda, zela e cuida tudo aquilo que mais lhe satisfaz.
Por fim, após ter uma curta – porém eficaz – conversa com esta mulher, ela voltou para sua residência e ligou para um amigo próximo a ela. Ao atender o telefone, além de trocar algumas palavras com ela, disse o que qualquer ser consciente deveria saber: ‘’apenas a guarde, como sempre fez. Só não se esqueça do mais importante: use notas de pequeno valor, mas com um zelo unidimensional ’’.
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