Era uma simples bancada de madeira, uma antiga cadeira, e um mar de emoções em sua mente. Mas havia um problema, e que ele já teria quase enlouquecido para descobrir. Mas não deu uma alternativa, foi em quase todos os meios de pesquisa que tinha em mãos, mas não se conformou com nada. Tinha um conhecimento ímpar, mas uma desconfiança enorme de sua própria inteligência e intelectualidade. Não havia sequer motivos, mas ele havia de ter algo para se estressar.
Nesta mesma noite, o tão inconformado poliglota saiu de casa. Mesmo que fosse num horário altamente extenso e perigoso para locomover-se, ele não mediu esforços para buscar uma ajuda, por mais simples que fosse o seu caso. Que, para todos a quem o conhecia – poucos por sinal -, já haviam o aconselhado mudar estes terríveis sentimentos e angústias. Mas como ele, teimosíssimo por sinal, se deparou com uma velha loja de televisões. Ao passar por esta loja – a única aberta naquele horário -, viu uma breve reportagem que lhe chamou atenção. E a reportagem, de extraordinária, não tinha nada. Mas o que mais lhe chamou a atenção, foi a repórter – muito jovem ainda, inclusive – conseguir entrevistar de Brasileiros e Espanhóis, a Alemães e Holandeses, numa triste catástrofe que havia tido em uma velha cidade dos Países Baixos.
Ao final desta reportagem, o rapaz se perguntou inúmeras vezes: ‘’como pode alguém assim falar com tanta naturalidade diversos idiomas?’’, ‘’e por que não consigo escrever sequer um simples texto em francês para alguém?’’. Estes questionamentos vieram à tona fortemente, e assim, voltou a se torturar psicologicamente. Isto era, além de não ser saudável, perigoso. Não que ele tivesse inveja de alguém, mas que fosse um mero surto interno, que todos ao redor já haviam percebido.
Mas então, ele resolveu passar numa lanchonete de esquina, e encontrou com uma simples senhora a lhe pedir esmolas. A princípio, ele ignorou. Mas a pobre senhora voltou a insistir. Mas para a surpresa de todos – que estavam no local, embora fossem poucas pessoas -, ele levantou-se tranquilamente e entregou uma mísera nota de dois reais. Teria sido um pouco rude de sua parte? Talvez. Mas, levando em consideração a sua atual situação, era de se esperar a frieza. Um pouco tempo depois, quando já havia terminado de tomar apenas dois copos de água, a simples senhora levantou-se da calçada, entrou na lanchonete e lhe disse: ‘’olhe, o senhor está bem? Afinal, só bebeu dois copos de água’’. Bastou apenas esta fala para ele voltar uns dois passos para trás e dizer: ‘’senhora, não tenho competência. Sou pobre de espírito’’. E ao dizer isto, a senhora levantou a voz a ele.
Ao subir o tom, sem ignorância ou dureza ao falar, ela lhe disse uma frase que o fez melhorar o humor: ‘’não se martirize. Seja você mesmo, e nunca queira se igualar a nenhum energúmeno’’. A partir disso, seu rosto começou a ficar ruborizado, mas não por raiva, mas sim por um leve constrangimento – que o fez ficar calado por algum tempo, até, de fato, sair do estabelecimento.
Ao chegar em casa, deitou-se em sua cama, virou-se para o lado e leu a sua tão querida enciclopédia escrita somente em Latim. E cá entre nós, mesmo que realmente se martirizasse, ele tinha uma inteligência sublime. Ao ler por cerca de quarenta minutos, fechou o livro. A partir deste momento, simplesmente pensava no nobre conselho da pobre senhora. Naquele momento, mesmo que tivesse ficado extremamente constrangido, não levou isso muito a sério.
Mas que, enfim, pôde dormir sossegado, só com o tal conselho em sua mente, algo que ele não fazia há, no mínimo dois meses consecutivos.
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