top of page
Search
Writer's pictureGabriel Sousa

Tipos de Gentileza - Crítica: 5/5

O cinema de Yorgos Lanthimos sempre me fez refletir em alguns aspectos específicos. Ao dirigir o curta ‘’Nimic’’, os formidáveis longas ‘’Dente Canino’’ e ‘’A Favorita’’, e o mais recente ‘’Pobres Criaturas’’ – que gostei bastante – Lanthimos parece que se acomodou com filmes cujo tema, premissa e moral fossem, no mínimo, angustiantes – no sentido de querer testar o espectador a todo custo -. Pois bem, ao dirigir esta belíssima obra, ‘’Tipos de Gentileza’’, embora o cineasta não tenha abandonado seu ‘humor ácido’, Lanthimos consegue, mais uma vez, me encantar com sua respectiva obra.

 

Desta vez, porém, é importante ressaltar – e devo lembrar também que A PARTIR DESTE MOMENTO HAVERÁ SPOILERS – o fato de o longa possuir três históricas antológicas que giram em torno de personagens diferentes, mesmo que sejam os mesmos atores.

 

Ambientado em uma cidade cujo ambiente é simplório (embora, é claro, seja vasto), a trama acompanha o jovem Robert (Jesse Plemons) em sua estranha vida cotidiana. O roteiro, a partir do momento em que o personagem está prestes a assassinar um senhor em plena avenida, inicia levemente o rumo em que o personagem estará. Ao nos apresentar Raymond (Willem Dafoe), a narrativa é hábil em nos apresentá-lo sem grandes ressalvas, apenas nos introduzindo a uma simples e inicial relação entre os dois personagens, sendo hábil ao tratar o espectador, durante o primeiro ato, com muita cautela.

 

A trama, contudo, é complexa. Mas está longe de ser confusa. Lanthimos e Eftyhimis Filippou, constroem um ambiente extremamente denso, que contrapõe a lentidão e a simplicidade do roteiro no início da primeira narrativa. E neste quesito, o principal fator para que esta atmosfera, este clima surja é o brilhante trabalho de Jerskin Fendrix, que faz o espectador literalmente delirar, somando às belas interpretações de Plemons e Dafoe, num primeiro momento, e mais tarde, a Qualley e Emma Stone – que, nesta primeira narrativa, não tem tanto destaque.

 

Dando início à segunda narrativa, o roteiro nos introduz a uma igualmente chocante vida de Daniel – que, como disse anteriormente, também é interpretado por Plemons -. A partir deste momento, a narrativa vai, junto a trilha de Fendrix, nos levando a um triste e perturbador momento. Pois, ao mostrar o suposto falecimento da personagem de Stone, o roteiro consegue o feito de enganar, mesmo que não totalmente, o próprio espectador, fazendo qualquer sujeito se arregalar com o que vemos em tela – e tratando-se de Lanthimos, este sentimento não poderia ser diferente.

 

No entanto, ao nos introduzir a esta personagem, a performance de Stone é magnífica da mesma forma – tanto ao surgir na trama como a suposta esposa de Daniel, quanto ao aparecer de uma forma totalmente inesperada como sua verdadeira esposa -. E neste caso, vemos uma verdadeira interpretação partindo de uma verdadeira protagonista, é plenamente sublime.


Para dar novas emoções, e por consequência uma nova atmosfera, Lanthimos trata de assuntos mais que perturbadores ou chocantes para tudo resultar na terceira narrativa do longa. A princípio, nos introduz ao casal Andrew e Emily, que são encarregados de encontrar uma pessoa para que esta faça um cadáver, literalmente renascer. Algo que poderia deixar o filme mais à fantasia que à realidade, mas que em um trabalho nada comum, ocorre exatamente o oposto. De modo similar, o trabalho de Robbie Ryan é fabuloso. Planos fechados, ambos em movimento, closes para dar veracidade a meros objetos – que aqui tornam-se universais -, ou até mesmo leves travellings, já são o bastante para contribuir com a narrativa.

 

‘’Tipos de Gentileza’’ é nada mais que um estudo de personagem. Esta frase, no entanto, poderia soar negativa, mas em uma verdadeira obra-prima cujos elementos técnicos são redentores, é distante de qualquer ato falho. É simplesmente perfeito, em suma. Não há também sequer algum elemento que me faça lhe apontar a algo ruim. E sua maior veracidade é tornar aquela tal fantasia que citei, num resquício de realidade.

 

 

40 views0 comments

Recent Posts

See All

Crônica - Um Jovem Excêntrico

CRÔNICA – UM JOVEM EXCÊNTRICO   Por uma simples história, é válido dizer que o tempo em que se gasta para ouvi-la, é totalmente...

Comments


Post: Blog2_Post
bottom of page